sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

A herança portuguesa

Da herança portuguesa em África e em Angola, penso que já todos nós ouvimos falar um pouco.
Não falando do óbvio como a língua, historia ou arquitectura, este fim de semana vi dois exemplos assombrosos da obra deixada pelos portugueses nesta terra. Um ainda bem recente e outro à mais de 400 anos, embora na proximidade apenas se encontrem afastados por escassas centenas de metros.
 
16 de Dezembro 2012
 
Viagem marcada até Cambembe, no Cuanza Sul a convite do amigos Sara e Ivo. Hora de saída, umas horrorosas 6 da manhã, que num domingo não deviam lembrar nem ao Diabo!! mas enfim, há que aproveitar tudo o que se possa para tornar os dias um bocadinho mais cheios e o mais variados possíveis. Saímos em caravana de 3 carros pela estrada de Catembe até Alto Dondo, ponto de encontro com mais 2 grupos de convivas para a grande almoçarada. Afinal, sem perceber bem como estava na "Guest List" para um churrasquinho de Natal pela equipa da ENGIVIX que iria ocorrer na obra da Barragem, dali a mais umas horas. E para que entendam que tipo de carros me refiro..

 


Ford F150 com 400 CV

Ford Raptor 500 CV


Se há coisa que surpreende aqui a toda a hora é o parque automóvel que se vê. A maior parte deles, são V8 e V10 que nem sequer são homologados na Europa. Verdade seja dita, alguns deles nem caberiam nas nossas estradas na Tuga.

Viagem decorreu em parte ao longo do Rio Cuanza, nome já muito familiar sem entender muito bem porque, mas lá está muito do que se vê e ouve por aqui soa-nos sempre a uma historia já em parte conhecida ou até mesmo já vivida. Ao chegar ao local da Barragem e já depois de passar todos os check ins de segurança, tivemos o privilegio de ter à nossa espera uma visita guiada por esta obra feita pelos portugueses, nos anos 50 e que hoje se encontra em fase de reforço de potencia por uma empresa brasileira. Passamos o descarregador impressionante da Barragem que segundo dizem se encontra com caudal relativamente mais baixo que o habitual.
 



Soube mais tarde que a construção da barragem foi em parte interrompida pelo surgir da guerra e que só agora se estão a completar os trabalhos executados à 50 anos atrás. Foi com certa nostalgia e admiração que constatei ainda existirem elementos da construção original da barragem como silos, centrais de cimento e outra oficinas que parecem não ter sido tocadas ao longo de todos estes anos.


 
 


Mais impressionante foi a visita à vila onde moravam estes portugueses repleta de casas únicas com a sua arquitectura muito similar as encontradas na linha do Estoril. Que diriam os seus antigos donos se as vissem agora, passados tantos anos, ainda erguidas nos seus pilares e repletas de historias de famílias, convívios, fins de tarde quentes e conversas no jardim, com a incrível vista sobre o rio Cuanza e sua África envolvente.


Rio Quanza


 Mas a verdadeira surpresa estava para vir..Do meio do mato e logo após um campo repleto de velhos tanques de guerra, surge de forma totalmente assombrosa e inesperada, as muralhas do velho forte português de Cambembe a montar guarda à zona navegável do Quanza.



Forte de Cambambe



A data inscrita no brasão sobre a entrada diz tudo, 1671. Não sei bem a razão mas às vezes parece que a historia de Portugal em Angola se limita apenas ao colonialismo da era 60. Este monumento é a prova do contrário. A história e presença de Portugal neste lado do mundo não é de hoje, nem deste século mas sim de há mais de 500 anos. Não há duvida, enquanto os portugueses cá estiverem, entre muita coisa menos boa que fizeram, há uma coisa que ninguém lhes pode negar! fizeram obra e fizeram de Angola a sua casa mais perfeita.



E que dizer do encontro de culturas que ocorreu à hora de almoço? Brasileiros, portugueses, angolanos e guineenses..Os PALOPs à volta de um churrasquinho bem brasileiro regado por umas boas dezenas de Ekas angolanas e bolos portugueses. Foi de comer e rolar por mais..




Mas como não há dia sem a calinada angolana da praxe, por isso aqui vai a do dia:

Ce tá ver o forte alí?

Foi Salazar que mandou fazer..
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