quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Natal.

25 de Dezembro de 2012

Natal.

Pela primeira vez em quarente anos, o Natal foi passado longe da família e dos que amo. Mas sei que apesar da situação eu estive com eles durante aquela noite especial e eles, mesmo com a distancia que nos separa estiveram comigo na noite de consoada quente de Luanda. Efectivamente, noite de Natal sem aquele frio ou sinais de conforto caseiro não me parece verdadeiramente Natal.
 
Mais do que isso, sem a família por perto, debruçada numa mesa farte de comida e convívio, o espírito de Natal não é possível de aparecer.
 
São eles a razão desta quadra, as pessoas que mais amo.
 
 
 

Apesar de tudo,não me posso queixar da sorte pois  acabei por ser acolhido na consoada da familia Pizarro, na sua casa do Futungo com direito a lugar marcado e tudo. Ivo acabou por me apanhar já perto das dez, numa pick up carregada de prendas que ajudei a descarregar à chegada. Afinal o stress da ultima hora por causa das prendas também se perpectua aqui. Ao chegar o calor de 30 a esta hora da noite marcou a primeira diferença em relação a um normal white cristhmas..
 
 
 

 
 
Duas mesas compridas prontas para acolher 52 pessoas num jantar de consoada farto e ao qual não podia faltar o bacalhau, leitão e o peru, sempre regado a bom vinho. A meio da noite, consegui fugir até um local mais calmo e skypar com os que amo, o que me fez sentir um bocadinho mais perto de casa e de Portugal. A partir daí a noite correu bem melhor e animada entre historias infindáveis e incriveís desta família enorme e unida.
 
A troca de prendas, foi uma animada sessão de amigo oculto em que cada um, descrevendo o seu amigo, esperava encontrar alguém que o identifica-se.
 
Depois o melhor, conversa animada sobre a mesa, fado malandro ao tom de Super bock e muita língua solta, dado que vários dos resistentes na mesa eram do PUARTO, Carago!!
 
Um natal diferente sem duvida, mas que apenas me fara valorizar mais todos os natais que virão no futuro e apreciar todos os dias o previlégio que é ter uma familia como tenho.
 
 
 

 

domingo, 23 de dezembro de 2012

Manguerinhas

23 de Dezembro de 2012

Estou em Luanda , Angola há mais de um mês. Há quem diga aqui que muitos portugueses vivem em melhores condições a trabalhar do que em férias em Portugal.
 

Em parte é verdade se considerarmos que a maior parte de nós não tem empregada em casa todos os dias para lavar roupa e limpezas, casas com piscina, TV cabo paga ou um Pocket Money mensal para as despesas com alimentação. Tenho tudo isso que atrás referi, mas não me sinto melhor aqui do que se estivesse a trabalhar em Portugal. Tudo existe para ajudar a atenuar as dificuldades diárias de trabalhar em Angola. Aqui vivo no Bloco 19 Condominio das Mangueirinhas em Morro Bento, na zona de Belas ou como lhe chamo por aqui, " O Presídio". E este é o aspecto que tem, visto de dentro..
"Casa"

 


Piscina
 

 
 
Casa simpática, ambiente simpático, piscina bem agradável quase parecendo um resort de férias que tanto se vê pelo Algarve. Isto, quando se vê de dentro.
 
De fora é um muro com 3 metros de altura, coroado por arame farpado e um portão fechado guardado por 4 guardas armados.
 
Agora já sabem, quando quiserem aparecer, estão convidados! e digo-vos uma coisa, um banhinho as dez da noite sabe pela vida.
 
 
 
 
Hoje apesar da época que vivemos e que parece estar a 1000000 km daqui, acabei por passar um dia bastante agradável na casa de praia de um amigo, aqui no Futungo. Almoço que me parece ser da praxe aos domingos, tipo porta aberta, um churrasco em frente ao mar, diante da Ilha do Mussulo. E deixem-me que vos diga, numa casinha como esta viver em Angola até parece valer a pena.
 
 

 
 
Ainda para mais com o por-do-sol perfeitamente alinhado com o alpendre da casa e a praia a 1 metro de distancia, que ao que parece, parecer ser também ponto de estadia da princesa cá do sitio, a Isabelinha dos Santos..De quem é a casa? bem, o melhor nem perguntarem ...



Definitivamente o pessoal do almoço pisa outros terrenos que não os nossos. Histórias de MPLAS, UNITAS, Chineses, Portugueses e outros que por estas terras mais recentemente passaram. É sempre curioso e enriquecedor ver a ideia que outros têm do nosso pais, políticos e das duas politicas e perceber que muitas vezes as coisas não são bem como nos são contadas nas lavagens cerebrais dos nossos telejornais..Nestes tempos Portugal precisa muito mais de Angola que o contrário..
 
Tenho no entanto que agradecer acima de tudo o convite que me estenderam no final deste dia. E por isso, este será o local onde amanha passarei minha consoada de Natal.

 
 
Ilha do Mussulo ao longe
 
A minha casa longe de Casa...
 

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

A herança portuguesa

Da herança portuguesa em África e em Angola, penso que já todos nós ouvimos falar um pouco.
Não falando do óbvio como a língua, historia ou arquitectura, este fim de semana vi dois exemplos assombrosos da obra deixada pelos portugueses nesta terra. Um ainda bem recente e outro à mais de 400 anos, embora na proximidade apenas se encontrem afastados por escassas centenas de metros.
 
16 de Dezembro 2012
 
Viagem marcada até Cambembe, no Cuanza Sul a convite do amigos Sara e Ivo. Hora de saída, umas horrorosas 6 da manhã, que num domingo não deviam lembrar nem ao Diabo!! mas enfim, há que aproveitar tudo o que se possa para tornar os dias um bocadinho mais cheios e o mais variados possíveis. Saímos em caravana de 3 carros pela estrada de Catembe até Alto Dondo, ponto de encontro com mais 2 grupos de convivas para a grande almoçarada. Afinal, sem perceber bem como estava na "Guest List" para um churrasquinho de Natal pela equipa da ENGIVIX que iria ocorrer na obra da Barragem, dali a mais umas horas. E para que entendam que tipo de carros me refiro..

 


Ford F150 com 400 CV

Ford Raptor 500 CV


Se há coisa que surpreende aqui a toda a hora é o parque automóvel que se vê. A maior parte deles, são V8 e V10 que nem sequer são homologados na Europa. Verdade seja dita, alguns deles nem caberiam nas nossas estradas na Tuga.

Viagem decorreu em parte ao longo do Rio Cuanza, nome já muito familiar sem entender muito bem porque, mas lá está muito do que se vê e ouve por aqui soa-nos sempre a uma historia já em parte conhecida ou até mesmo já vivida. Ao chegar ao local da Barragem e já depois de passar todos os check ins de segurança, tivemos o privilegio de ter à nossa espera uma visita guiada por esta obra feita pelos portugueses, nos anos 50 e que hoje se encontra em fase de reforço de potencia por uma empresa brasileira. Passamos o descarregador impressionante da Barragem que segundo dizem se encontra com caudal relativamente mais baixo que o habitual.
 



Soube mais tarde que a construção da barragem foi em parte interrompida pelo surgir da guerra e que só agora se estão a completar os trabalhos executados à 50 anos atrás. Foi com certa nostalgia e admiração que constatei ainda existirem elementos da construção original da barragem como silos, centrais de cimento e outra oficinas que parecem não ter sido tocadas ao longo de todos estes anos.


 
 


Mais impressionante foi a visita à vila onde moravam estes portugueses repleta de casas únicas com a sua arquitectura muito similar as encontradas na linha do Estoril. Que diriam os seus antigos donos se as vissem agora, passados tantos anos, ainda erguidas nos seus pilares e repletas de historias de famílias, convívios, fins de tarde quentes e conversas no jardim, com a incrível vista sobre o rio Cuanza e sua África envolvente.


Rio Quanza


 Mas a verdadeira surpresa estava para vir..Do meio do mato e logo após um campo repleto de velhos tanques de guerra, surge de forma totalmente assombrosa e inesperada, as muralhas do velho forte português de Cambembe a montar guarda à zona navegável do Quanza.



Forte de Cambambe



A data inscrita no brasão sobre a entrada diz tudo, 1671. Não sei bem a razão mas às vezes parece que a historia de Portugal em Angola se limita apenas ao colonialismo da era 60. Este monumento é a prova do contrário. A história e presença de Portugal neste lado do mundo não é de hoje, nem deste século mas sim de há mais de 500 anos. Não há duvida, enquanto os portugueses cá estiverem, entre muita coisa menos boa que fizeram, há uma coisa que ninguém lhes pode negar! fizeram obra e fizeram de Angola a sua casa mais perfeita.



E que dizer do encontro de culturas que ocorreu à hora de almoço? Brasileiros, portugueses, angolanos e guineenses..Os PALOPs à volta de um churrasquinho bem brasileiro regado por umas boas dezenas de Ekas angolanas e bolos portugueses. Foi de comer e rolar por mais..




Mas como não há dia sem a calinada angolana da praxe, por isso aqui vai a do dia:

Ce tá ver o forte alí?

Foi Salazar que mandou fazer..
...




 
 
 

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

O inferno Angolano..

Por aqui conta-se a seguinte anedota:
Chegado um defunto menos recomendável à presença de S. Pedro, é-lhe colocada a seguinte pergunta:

Meu caro, dada a história da sua vida, tem duas opções; passar a eternidade no inferno, ou no inferno angolano...

E o defunto perguntou: Inferno ou inferno angolano?!?..mas S.Pedro, qual é a diferença?
- Caro, no Inferno deve comer uma vez por dia um balde de bosta..No inferno angolano deve comer três baldes de bosta por dia.
- S. Pedro, posto isto prefiro comer um balde do que três..Escolho o inferno normal!
e lá foi o defunto.

La foi comendo o seu baldinho de bosta diário no inferno normal, mas reparou que no inferno angolano, apesar dos três baldes de bosta por dia, a festa era total e diária, já que passavam todo o dia Kizombando e festejando! O defunto estranhou, e certo dia acercou-se do muro que separava e perguntou:
Meu Kamba, eu tenho que comer um balde de bosta por dia que me dá um nojo e me tira a vontade para tudo!! e vocês que comem três, passam a vida em festa! Porque raio? são loucos?!?
E o kamba respondeu:
Meu caro, aqui é o inferno angolano..um dia não há balde, outro não há bosta, noutro o homem que trás bosta não vêm...e por isso ainda não "comememo" balde merda nenhum!!

e isto diz muito deste "inferno" !!


Esta foto é de mais uma das loucuras angolanas..É uma das cidades ultramodernas construidas na periferia de Luanda pelos chineses, no nada, do nada e ...para nada! sao dezenas e dezenas de blocos de apartamentos ao longo de quase um km que não tem um unico habitante!! tem jardins, parques, restaurantes, predios modernos com enormes relvados à volta, mas que,,não tem saneamento, agua canalizada, electricidade e a preços que nenhum angolano médio poderá suportar..os ricos mesmo ricos, não se rebaixam sequer para morar num apartamento! Entretanto há milhoes que vivem em musseques e em condições onde nenhum ser humano deveria viver...
 
 
Loja de venda de lubrificantes...
 
Acho que se fosse possivel contar o lixo desta cidade, daria para encher a Baia de Luanda de ponta a ponta...

 
 

domingo, 9 de dezembro de 2012

Angola, ou se ama ou se odeia...

Uma frase que ouvi vezes sem conta aqui. Angola, ou se ama ou se odeia.

Uma das respostas que mais frequentemente ouço, com um abanar de cabeça é : Amar?..mas amar o quê??

Apesar de ser novato neste país e de praticamente nada conhecer desta terra imensa, em parte entendo esta resposta. No dia a dia normal de  uma qualquer pessoa não há nada que salte à vista que nos leve sequer a pensar um dia vir a amar Angola. Luanda, vista do alto da samba é um postal de uma cidade tropical vibrante e moderna, mas isto é sem ligar o zoom da maquina fotográfica.
 
 
Falta muito ainda, talvez três ou quatro gerações para todo este povo poder acompanhar tudo que lhe está a acontecer à volta, e isto é se algum dia vier a acontecer. Milhões em Luanda vivem do comercio mais precário e irreal que se possa imaginar. Praticamente não há metro de berma de estrada que não tenha um comerciante, e chamar comerciante já é muito, a vender algo, desde chamadas de telefone ao minuto, numa mesa com um telemóvel de cada operador a espetadas de uma carne qualquer que nem convém saber o que é. Ao mesmo tempo surgem arranha céus gigantescos por toda a cidade e empreendimentos de luxo que vivem rodeados de muros de 4 metros e arame farpado e que são guardados por vários guardas armados com as suas fieis Ak´s..Construi-se finalmente a primeira auto estrada do pais que liga Luanda a Viana, sem olhar ao modo como separaram musseques e locais..Vai daí, e dado que esta "autoestrada" não tem uma única vedação, sinalização ou separador, a média de atropelamentos nesta via é de 4 fatalidades por dia. Pessoalmente já tive a infeliz oportunidade de ver estendida no chão uma destas vitimas, atirada para a berma da infame "auto estrada". Numa cidade em que o passeio é literalmente a faixa do Bus, e que parar numa passadeira é acidente na certa, este é mais um dos saltos evolucionais de não deve acontecer de um dia para o outro. Para um europeu, é de ficar com a boca aberta e com os cabelos em pé ver na faixa da esquerda desta "autoestrada", carros a rebocar outros com as correias dos cintos de segurança.!!!Alias, das primeiras coisas que me disseram foi que aqui, a faixa dos lentos é a da esquerda e as dos parados a da direita!! Há que andar pela berma do lado de fora, quando a há.
Mas verdade seja dita.O angolano, por mais pobre que seja ou mais parida seja a sua vida e o seu dia a dia, vive em alegria e sempre pronto para a Quizomba ou Kuduro. E nada mostra melhor isso que as crianças que vemos nas quelhos dos musseques ou aldeias no meio do mato ou de pescadores..
 
 



 
Estes sim, nada têm para além da liberdade, mas os sorrisos não enganam...
São os verdadeiros capitães da areia..
 
 
 
 

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Primeira Semana na War Zone

E a primeira semana passou sem dar por ela..

Entre tanta historia e novidade estes dias pareceram voar, mas apesar disso foram dias cheios de historias e historinhas..e algumas que serviram deforma clara para confirmar o "raro" que este pais imenso é. Um país onde o General, chefe da casa do Edú, compra helicópteros para distribuir panfletos para ajudar à sua reeleição ao mesmo tempo que oferece um jacto privado ao filho, quando a maior parte do povo angolano luta no dia a dia para simplesmente conseguir ir trabalhar ou apenas se deslocar afim de conseguir o pequeno sustento diário. Sim, porque o transito de Luanda é de criar raízes na estrada. Digamos que a média que tenho feito para percorrer o centro da cidade até Talatona, quer seja pela estrada da Samba, Viana ou Cacoaco é de 4h para percorrer a incrível distancia de, pasme-se 15 km!!
 
Mas efectivamente há histórias que ficam no dia a dia, como as que diariamente acontecem na Pastelaria Nilo onde normalmente todas as manhas, tomo o café para levantar a pestana..A saber, de aspecto, não fica atrás de nenhuma Nortenha ou Aquarius, mas as semelhanças acabam ai..Senão vejamos..
Pré-pagamento:
- Bom dia, queria um café e um pão com queijo e fiambre.
- Não temos café..
- Não?
- Temos galão.
- Mas galão não leva café?
- Leva.
- Mas não tem café?
- Não
- ...então um galão..com pouco leite e um pão com queijo e fiambre.
- Não temos.
- Então que tem?
- Temos pão com queijo, pão com fiambre e misto!!
- ..... 
ou como a do restaurante LOUNGE Embarcadouro que, quando chegada a altura do café os 3 convivas pediram:
- É um café para mim..
- Dois..
- Três cafés..
 
Quantos vieram para a mesa?!?! exactamente..6!..como se diz aqui, COMPLICOU!
 
 
Há saltos que devem ser geracionais e não devem acontecer de um momento para o outro.. Por aqui há que ter paciência para tudo e o segredo é não stressar nem desesperar. Há que fluir porque rapidamente se percebe que há coisas que não vale a pena contrariar.. é como fazer surf, mas numa onda que anda beeeeem devagar, e nem sempre no sentido da praia!
 
Mas nem tudo é menos bom, e para provar..
 
 
"Resorte Queirós" leia-se LAGOSTA




Cabo Ledo

Miradouro da Lua
Enfim...fim de semana Angolano para tugas..