Fim de ano em Angola e início de outro..
Same as the old one.
Reveillon ficou com local marcado desde o Natal para a Fazenda de Tumbavala perto da Aldeia de Pedra Escrita, a cerca de 400 Km de Luanda, no Kuanza Sul. Antiga fazenda de colonos alemães por mais estranho que isso possa parecer, que se dedicavam ao cultivo do café, nos anos 50.
Confesso que o nome Pedra Escrita me provocou curiosidade desde o primeiro dia que ouvi o nome..Seria uma escrita pre-histórico tipo rupestre? seria escrita por nativos da zona numa era mais tribal? Uma herança dos povos que aqui habitaram há decadas e decadas? A curiosidade seria saciada à chegada...
Mas antes falemos da viagem. Ponto de encontro intermédio do "comboio" dos duros seria no Alto Dondo, no local habitual, para retemperar forças, beber uma Eka geladinha ou um café e dar descanso aos carros durante a dura e quente viajem por estas estradas esburacadas.
Pelo menos para um deles, o descanso chegou demasiado tarde, já que não chegou sequer ao ponto de encontro, com problemas mecânicos que foram impossíveis de resolver pelos mecânicos de serviço! ou seja, todos nós! bem apreciada foi a ajuda do pessoal local que emprestou todas as poucas ferramentas de que disponham. Mas ao fim de uma hora, nem o capô tínhamos conseguido abrir...
Eu explico!! o fabuloso Hyunday Santa Fé (um salgadinho *), tinha acabado de sair há uns dias de um estado acidentado depois de ter estado 6 meses à espera de peças, algo normal por aqui se não forem Toyotas ou Fords. Durante a montagem das peças, que incluía a grelha frontal e dada a dificuldade em a montar no carro, o verdadeiro mecânico angolano desenrascou e resolveu aplicar....cola super forte para a segurar!! que acabou por colar todo o sistema de abertura do capô..Não houve outro remédio se não arromba-lo e, depois de constatar a nossa ignorância em motores automáticos, rebocar o carro à moda antiga até uma bomba de serviço onde passou a noite guardado por um segurança "contratado".
* Acerca de "Salgadinhos".
Durante o Tsunami de Banda Ache em 2001, a onda gigante arrastou tudo, incluindo um parque de centenas de automóveis Hyundai que aguardavam embarque em navio para os EUA. Foram todos dados como perdidos pelas seguradoras e pagos a quem de direito. Um angolano esperto achou por bem então, comprar todos os carros alagados ao preço da uva mijona e traze-los para Angola, para os transformar em sucata. Claro está, que a maior parte deles foram vendidos como carros "low cost" a muitos cliente satisfeitos com tão barata compra. Chamam-lhes salgadinhos porque, por muito limpos que tivessem sido foi impossível limpar dos cinzeiros, porta luvas e outros recantos dos veículos..todos os vestígios da catástrofe, incluindo uma denunciante, persistente e chata ...camadinha de sal!! Ainda para mais, como os carros estavam previstos para os EUA, não estou tropicalizados tendo como equipamento entre outros um muito útil Aquecedor de Bancos e Tracção para Neve..!!!
Assim apenas dois carros seguiram a sua aventura até à Fazenda carregados até cima com todos os mantimentos necessários para os 3 dias que aí passaríamos. Dalí a uma hora estávamos na Aldeia da Pedra Escrita.
Pedra Escrita |
Que afinal o que tinha escrito era..Móveis Oliva-Os melhores de Angola..
Aldeia da Pedra Escrita |
Daqui saia uma picada que demoraria cerca de uma hora a atravessar, passando por dois rios e por locais onde até um boi teria dificuldade.. Claro está e à semelhança de outras histórias ocorridas noutras paragens, um tronco atravessado na estrada dá muita dor de cabeça e aqui não foi excepção.
O Vera Cruz nunca mais foi o mesmo. |
Após cerca de hora e meia lá chegamos à Fazenda Tumbavala, perdida no meio do mato e perdida no tempo também..Sem energia elecrita (a não ser gerador), rede de telemóvel ou televisão.
Verdadeiro cenário para o "Out of Africa"
e a cenário do alto da torre...
a perder de vista...
Chegamos a tempo de um banhinho na piscina e cansados de mais para qualquer outra coisa. A noite foi preparada com afinco mas dado o estado "físico" do pessoal o jantar ficou para mais tarde..depois do banho houve tempo para dormir um pouco e preparar a noite. Velinhas à volta da piscina, fogueira gigantesca para substituir as habituais tracejantes para o ar e vestimenta a rigor de cor branca.
Não estava preparado para os sons da selva, ao inicio da noite. Macacos a uivar, rãs, morcegos e uma orquestra estridente de outros tantos animais, tantos que seriam impossíveis de discernir de forma clara. Ah, e as historias de cobras a entrar dentro de casa não me deixaram mais descansado. Isso aliado ao total isolamento transporta-nos para outro mundo bem diferente daqueles ao que estamos habituados, longe de tudo, longe do mundo, das festas fogos de artificio, musica, transito, pessoas, etc...
A meia noite quase passou sem se dar por ela. Fizeram-se os desejos da praxe e engoliram-se todas as passas, ameixas, nozes e grãos de romãs a que a tradição aqui obriga. Só depois da meia noite, veio o jantar. Os meus desejos? esses ficam para mim..
1 de Janeiro de 2013
Noite muito mal dormida!!! apenas isso posso dizer. É que aliado a todo o zoológico da selva, surgiu o maior rugido de todos..o ronco do companheiro de quarto!! tendências homicidas estiveram perto de levar a melhor obre o meu bom discernimento..Nem um elefante no cio se assemelhava..mas enfim!
Antes de sair da Fazenda fizemos uma visita a um ninho de Mambas!! bom pelo menos assim o disseram, ao mesmo tempo que aconselhavam a ter cuidado com o que pisávamos! Este ninho ficava na maior "floresta" de bambo que alguma vez vi, e o objectivo desta visita era colher uma flor típica de angola, a enorme rosa de porcelana.
Como não podia deixar de ser, as rosas tinham que estar o mais metidas dentro do canavial possível, e houve que caminhar sobre um manto fundo e fofo de folhas secas caídas no chão que escondiam verdadeiras cavernas debaixo dos pés. Felizmente cobras nem vê-las...parece que se confirma a teoria de que são bem mais activas de noite..THANK GOD!!
Rumamos cedo em direcção a Kibala, bem perto das famosas Pedras Negras do Kuanza Sul. Viagem bem animada e por cenários de sonho, sempre bem acompanhada pelas inevitáveis CUCAS!
Pedras Negras |
Paramos para uma visita a mais uma fazenda, desta bem com criação de gado a 100 km da primeira, esta bem mais civilizada, com um belo rio a servir de fronteira natural. Mesmo assim estamos a falar de uma pequena fazenda de 500 Ha mesmo comparando com a outra que apresentava um módicos 600 Ha ou seja, 600 campos de futebol.
Voltamos a Tumbavala para almoçar...às 6 da tarde!! mas não sem antes realizar uma das coisas que mais se faz por estas bandas...